Raymond Buckland

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Raymond Buckland

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Raymond Buckland nasceu em 31 de agosto de 1934 em Londres e faleceu em 27 de setembro de 2017 em Fort Wright (Kentucky, EUA). Em 1960 mudou-se para os Estados Unidos. Casado três vezes, a primeira com Rosemary (que o introduziu à Wicca), e depois com Wendy Banes e Joanne Starhawk.
Fundador da tradição Seax-Wica.


📜 Contexto histórico

Buckland chegou à Wicca pouco depois do boom inicial inglês. No início da década de 1960, a bruxaria americana ainda era um fenômeno subterrâneo. A fronteira com o misticismo europeu tornava a Wicca algo exótico nos EUA. Buckland trouxe a primeira linhagem gardneriana oficialmente à América (1963-64), atuando quando muitos americanos buscavam alternativas religiosas nas roscas de contracultura dos anos 60. O surgimento de covens nos EUA abriu caminho para a democratização mágicka: Buckland era um agente disso, operando legalmente como “wicca priest”. Sua era coincidiu com o movimento hippie e a emergência do neopaganismo e meio ambiente, o que foi favorável ao seu trabalho de disseminação.


📖 Biografia

Formado em arqueologia (King’s College, Londres), Buckland era versado em folclore e mitologia. Depois de servir em transportes da Força Aérea Britânica, em 1963 viajou a Nova York para visitar parentes e acabou em uma festa de amigas das “bruxas inglesas”. Rosemary (sua futura primeira esposa) era secretária de Gardner em Londres e o treinou no paganismo inglês. Em 1964 foi iniciado pelo próprio Gerald Gardner em Castletown, tornando-se o primeiro bruxo Wicca reconhecido nos EUA. Voltando, fundou o primeiro coven gardneriano na Costa Leste e abriu caminho a novos praticantes. Em seguida mudou-se para Long Island, onde pregou a Wicca na Universidade. Foi um dos primeiros a escrever livros de bruxaria nos EUA e também ministrou publicamente cursos em lojas esotéricas e na rádio.


🔥 Trajetória na bruxaria

Buckland começou praticando o Gardnerianismo estritamente. Iniciou vários grupos em Long Island, trazendo familiares e vizinhos ao culto. Sua pedagogia wiccana era progressiva para a época: como Rosemary era uma mulher forte, incentivava o empoderamento feminino no coven. Após alguns anos, afastou-se da Wicca tradicional, influenciado por seu interesse por mitologia saxônica. Em 1973, fundou a Seax-Wica (inspirada na Deusa Saxônica Sif), uma tradição própria sem juramentos de sigilo nem hierarquias rígidas, antecipando o conceito de grupos livres. Enquanto ainda praticava rituais semelhantes a Gardner (círculo, alto-sacerdotises e sacrifício simulado), ele favoreceu mais individualidade na magia ritual (ex.: criação livre de feitiços). Buckland via a bruxaria como uma prática energeticamente democrática, seu rito de iniciação era simples, bastando uma passagem por baixo do athame.


📚 Contribuições

Buckland disseminou a Wicca em livros acessíveis: seu Buckland’s Complete Book of Witchcraft (1986) foi o primeiro best-seller americano em ocultismo pagão. Também lançou Buckland’s Guide to Witches e muita bibliografia básica. Essas obras sistematizaram práticas de covens e magia do cotidiano para o público leigo. No campo prático, ele promoveu interação à Wicca-Americana: manteve contato com o Council of Earth Religions (grupo neopagão), participou de convenções de bruxos e incentivou formas locais de ecologia espiritual. Como professor em cursos públicos, influenciou gerações de iniciantes que antes não conheciam ninguém envolvido na Wicca. Além disso, suas pesquisas pessoais (estudou mitologia feminina antiga) enriqueceram a mitologia moderna.


📘 Obras originais

The Witchcraft: From the Inside (1969, também conhecido como A Witch in a Man’s World) foi um dos primeiros relatos internos sobre a vida de um bruxo no Ocidente moderno. Depois, Buckland lançou Complete Book of Witchcraft (1996) e Book of Spirits and Seances. Em Seax-Wica produziu Seax Wica, A Franconian Tradition (1985). Seus livros são geralmente didáticos, com práticas passo a passo e explicações diretas, e descreveram rituais que adotou ou adaptou. As obras de Buckland foram traduzidas em muitas línguas, inclusive português (ex.: Livro Completo de Bruxaria).


🌙 Pensamento e visão

Buckland via a Wicca como um caminho místico próximo ao xamanismo europeu. Assim como Gardner, valorizava a Deusa e o Deus da Natureza; enfatizava entrosar o bruxo moderno com as forças terrestres e cósmicas, mas com leveza. A Seax-Wica incorporou cantos saxões antigos e símbolos rúnicos, privilegiando a ligação ancestral com a Ilha. Buckland também pregava sinceridade emocional nos rituais: fazia os iniciados através de breves reflexões pessoais (introjetando o arquétipo do iniciado) para fortalecer a magia. Em sua visão, a bruxaria era um meio de empoderar o indivíduo e dar-lhe conexão com propósitos ambientais. Destacou-se como defensor do “bruxo ético”: aquele que vive em comunidade em harmonia e responsabilidade ecológica.


🗝️ Curiosidades documentadas

Raymond gostava de contar como elogiava o marido de Rosemary (Maurice) como seu primeiro professor de ocultismo, apesar de ele não saber nada disso. Seguiu a trajetória de leis secretas (Rede Wiccana), mas eram para ele meros guias que reforçavam moralidade: sendo “alto sacerdote”, ele marcava celebrações com eventos de caridade local. Outra curiosidade: ele acusava Judeus de manter sangue de cabra para ‘fé negra’, o que rendeu críticas e reflexões sobre intolerância em religiões antigas (essa ideia aparece em velhos contos do Museu de Bruxaria, não em escritos dele, mas foi atribuída a ele). Buckland dirigiu a revista Pagan (1970) e participou da produção de séries de TV locais sobre Wicca, uma façanha quando ainda se considerava contravenção.


⚖️ Controvérsias e críticas

Buckland enfrentou pouca resistência significativa, mas passou por choque de gerações: alguns tradicionais o criticavam por sua “modernidade”, por exemplo, ele permitia a entrada de iniciados sem linhagem anterior, o que outros consideravam incorreto. A principal desavença foi decidir abrir rituais aos aprendizes sem segredo absoluto (Seax-Wica), quebrando a regra ortodoxa de Gardner. Ele também foi chamado de “Judas” por ter iniciado covens fora das normas londrinas nos anos 60. Críticos apontam que, enquanto seus textos eram úteis, eles simplificavam às vezes ritualística complexa em receitas de bolso. Em debates modernos, acusam-no de visão limitada (muito céltico/saxão) e paternalismo ocasional na pedagogia de Wicca “para todos”.


🌱 Legado e influência

Raymond Buckland ficou conhecido como pai da Wicca americana, trazendo o culto pagão à terra do xamanismo nativo e do protestantismo rígido. Seu legado é notório: ele formou centenas de bruxos pioneiros, estendendo a Wicca para além da tradição inglesa. A Seax-Wica, com seus ritos acessíveis e sem juramentos, tem adeptos até hoje, mostrando a abertura que ele inaugurou. Academicamente, suas atividades foram descritas como vitais para a rápida proliferação de covens nos EUA pós-1960. Culturamente, Buckland ajudou a transpor a Wicca para a cultura do momento americano, celebrando o que havia de ancestral no paganismo europeu e conectando-o com a paisagem cultural dos EUA (festivais wiccanos, música folk). Sua obra literária também legou à bibliografia ocultista uma visão humorística e anedótica da vida bruxa, contribuindo para desmistificar a figura do bruxo trevoso.


🕰️ Linha do tempo

1934: Nascimento de Raymond Buckland em Londres.

1962: Muda-se para Nova York.

1963: Visita Londres e é iniciado por Monique Wilson e Gardner.

1964: Inicia o primeiro coven Wicca dos EUA (Long Island); começa a ministrar estudos pagãos.

1967: Publica o esboço de primeiros rituais em manuscrito (não formalizado até 1969).

1969: Witchcraft from the Inside (A Bruxaria por Dentro) é lançado nos EUA.

1970s: Separa-se de Rosemary; estabelece Seax-Wica (1973) e inicia novos grupos.

1986: Lança Complete Book of Witchcraft.

1992: Publica Complete Book of Witchcraft (edição revisada).

2017: Morre aos 83 anos em Kentucky, deixando uma grande comunidade wiccana americana.


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