Doreen Valiente

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Doreen Valiente

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Nascida Doreen Edith Dominy em 4 de janeiro de 1922 em West Kirby (Cheshire), criada em Surrey. Faleceu em 1º de setembro de 1999 em Brighton, East Sussex. Casada duas vezes (1º com Philip Chase, 2º com Casimiro Valiente). Ocupação: correios, depois escritora. Recebeu o epíteto de “Mãe da Wicca”, por ter escrito muito da liturgia central do Gardnerianismo e posteriormente adotada por outras tradições.


📜 Contexto histórico

Valiente cresceu no entreguerras em família não religiosa, vivenciando experiências místicas na infância. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu em missão confidencial (há rumores de trabalho em Bletchley Park). No pós-guerra mudou-se para Bournemouth com o segundo marido e aprofundou estudos esotéricos: frequentou círculos espiritualistas e estudou textos ocultistas e folclóricos. Em 1952 descobriu um artigo sobre bruxaria britânica que mencionava Gerald Gardner. À época, Wicca era quase desconhecida publicamente, Gardener começava a atrair mídia para seu Museu de Magia e sua nova Arte.


📖 Biografia

Valiente lia avidamente livros de ocultismo e praticava auto-iniciações. Em 1952, encantada pela ideia de festivais mágickos famosos em 1940 (para defender a Inglaterra), ela escreveu a Cecil Williamson (dono do museu) elogiando o conceito. Gardner respondeu-lhe, iniciando uma correspondência. Pouco depois os dois se encontraram: Valiente considerou-o alegre, curioso e amigável. Em 1953 foi iniciada no coven de Bricket Wood por Gardner (sem o conhecimento do marido, então cético), adotando o nome ritualístico “Ameth” (inspirado em John Dee). Logo ela passou a ser sua alta-sacerdotisa, traduzindo o Book of Shadows original de Crowley para o coven e até compôs versos litúrgicos originais que são utilizados até hoje em várias tradições.


🔥 Trajetória na bruxaria

Assim que começou a praticar, Valiente questionou algumas fontes de Gardner. Notou várias similaridades dos ritos com textos de Aleister Crowley e Charles Godfrey Leland. Contra a postura de Gardner, ela esforçou-se para tornar os rituais mais coesos: reformulou completamente os feitiços da Deusa, criando a famosa “Deusa da Lua Branca” (White Moon Goddess), hoje conhecida como Charge of the Goddess, e reescreveu diversos hinos do Book of Shadows do coven. Com isso, deu à Wicca uma literatura ritualista robusta. Valiente também acolheu novas iniciadas (incluindo Phil e Kerry Carnes) e fundou outro coven quando discorda da crescente exposição midiática de Gardner em meados dos anos 60. Durante a sua carreira, foi iniciada em 4 covens diferentes, sempre partindo após debates sobre autenticidade, até mesmo teve breve associação controversa com a extrema-direita nos anos 70, conforme sua própria narrativa em The Rebirth of Witchcraft.


📚 Contribuições

Valiente é talvez mais reconhecida por suas habilidades literárias dentro da Wicca. Ela é autora de vários livros clássicos, como Witchcraft for Tomorrow (Bruxaria para o Amanhã, 1970), The Rebirth of Witchcraft (O Renascimento da Bruxaria, 1989) e Where Witchcraft Lives (1982), que sistematizam crenças wiccanas. Porém, sua obra maior foi reescrever rituais essenciais: ela dotou a Wicca de terminologia coesa e de um misticismo poetizado. Seus versos para a Deusa e para rituais tornam-se a forma litúrgica até hoje. Defendeu uma Wicca feminista antes de ser moda: contrariou títulos patriarcais, propondo autonomia feminina nos templos. Politicamente, sob sua liderança, o coven passou a valorizar justiça social, direitos civis e ambientais. Seu legado teórico inclui ideias de reconstrução histórica do paganismo (tentando ir além do que Gardner trouxe) e de acesso livre ao conhecimento oculto (ela sugeria aprender por livre compartilhamento, não segredos herméticos).


📘 Obras originais

Além das liturgias, Valiente compilou e escreveu livros de referência. Witchcraft for Tomorrow (1970) sintetiza práticas rituais e filosofia wiccanas, atualizando-as para tempos modernos. The Rebirth of Witchcraft (1989) é uma coletânea de artigos reflexivos sobre a prática e autobiográfica, reafirmando temas como ecologia e liberdade pessoal. Em sua Daily Practice (1978) detalha rituais diários. Valiente também produziu poesia e literatura sobre sabás sazonais. Suas obras originais não foram meras transmissões de tradição arcana: ofereceram reflexões a cada geração de bruxas. Várias delas foram traduzidas (p.ex. no Brasil, A Bruxaria para o Amanhã).


🌙 Pensamento e visão

Valiente nutria uma visão de Wicca ampla e progressiva. Ela acreditava que a prática deveria servir à cura social e pessoal, não somente a objetivos mágickos. Para ela, rituais eram “festas energéticas” para honrar a Deusa e o Deus da Terra; mencionava que a bruxaria era amor e comunhão com o mundo natural. A Deusa em seus escritos é dotada de múltiplas faces e atributos compassivos. Defendia que cada bruxa se aproximasse do sagrado de forma livre, sem fixar regras moralizantes rígidas. Em síntese, Valiente destacou a solidariedade, a ecologia e o empoderamento feminino. Essa visão se manifesta nas linhas de força de seus textos: ela enfatiza repetidamente a conexão “Mãe Terra e humanidade” e uma ética de não prejudicar (eco da regra wiccana).


🗝️ Curiosidades documentadas

Entre os fatos notáveis de sua vida, menciona-se sua suposta atividade em Bletchley Park durante a guerra, embora não confirmada, e a lenda de que Aleister Crowley estaria entre seus parentes (isso ela mesma zombava). Valiente gostava de futebol, torcia pelo Manchester United e de apostar em corridas de cavalo. Trabalhou em empregos comuns (fábrica, farmácia) mantendo sua vida mágicka discreta. Ela às vezes contava histórias espirituosas: por exemplo, certa vez manifestou contrariedade quando o Chefe do Coven de Wicca era homem. Outra curiosidade é que após sua morte, seus restos foram espalhados ao pé de um carvalho querido, e em sua homenagem foram criados pingentes de carvalho para iniciados no Museu da Bruxaria.


⚖️ Controvérsias e críticas

Valiente enfrentou críticas internas e externas. De fora, alguns conservadores desacreditavam sua pesquisa feminina ou achavam que Wicca era mero folclore “inventado”. Dentro do meio pagão, ela entrou em choque com outros líderes: rompimentos ocorreram com Gardner (disputa por publicidade excessiva) e mais tarde com Alex Sanders (diferenças doutrinárias). Valiente criticou a ênfase sensacionalista da “mídia” de Sanders e se opôs a rivalidades de linhagem. Mesmo suas fugazes alianças políticas (entrada na Frente Nacional, possivelmente como agente duplo) geraram discórdia. Pós-1990, acadêmicos como Philip Heselton escreveram biografias elogiando-a, mas também debatendo algumas imprecisões e fofocas (como o mito de Crowley). Ainda, vivemos num contexto que questiona heranças culturais: sua prática foi às vezes recriminada por depender de textos de ocultistas masculinos, o que ela própria reconhecia como dilema. Apesar disso, a crítica principal a Valiente hoje é uma só: a distância entre sua narrativa idealizada de “reconstrução histórica” e a realidade factual difusa da tradição que praticava.


🌱 Legado e influência

Doreen Valiente deixou um legado fortíssimo: ela praticamente definiu o estilo e a liturgia básica de numerosas tradições wiccanas, sobretudo do Gardnerianismo. Chamam-na de “Mãe de todas as bruxas modernas” por ter tornado a Wicca acessível em suas obras e ter elevado seu teor poético e filosófico. Seus livros continuam a ser referência obrigatória para iniciantes, e vários dos ritos que escreveu são recitados até hoje em covens ao redor do mundo. Além disso, formou diretamente discípulas influentes (como Sybil Leek e Janet Farrar). No movimento feminista pagão, Valiente tornou-se um ícone de liderança feminina. Culturalmente, contribuiu para popularizar o sincretismo rural/pagão perante a sociedade ocidental moderna, ajudando a Wicca a ser reconhecida como religião legítima e não apenas moda passageira.


🕰️ Linha do tempo

1922: Nascimento de Doreen Edith Dominy em Surrey.

1940-45: Possível atividade em inteligência militar durante a guerra.

1946: Toma o sobrenome do segundo marido, Casimiro Valiente.

1952: Descobre artigo sobre bruxaria e começa correspondência com Gerald Gardner.

1953: Inicia-se como bruxa em Stonehenge; torna-se alta-sacerdotisa de Gardner.

1954: Publica seu primeiro poema mágicko, que depois seria adotado em ritos (não publicado em livro naquele ano).

1960: Desliga-se do coven de Gardner e cria o Coven de Atho em Bournemouth.

1970: Lança Witchcraft for Tomorrow.

1989: Publica The Rebirth of Witchcraft, expondo sua visão pessoal da magia.

1999: Morre em Brighton; seus ritos continuam vivos na Wicca global.


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