A Roda do Ano
- Henry Barbosa
- 18 de jun. de 2022
- 6 min de leitura
Atualizado: 3 de mai.
A Dança Cósmica
Em algum momento do caminho, toda Bruxa sente o chamado dos ciclos.
É como se a Terra sussurrasse ao ouvido da alma: “olha como tudo gira, como tudo vive, morre e renasce.”
Essa sabedoria não é nova — ela é ancestral. E é nela que se ancora um dos pilares mais profundos da prática Wiccana: a Roda do Ano.
A Roda do Ano não é apenas uma sequência de datas: É a biografia cíclica da natureza. E ao vivenciá-la, a Bruxa participa dessa dança cósmica — não como espectadora, mas como parte viva do enredo.
Cada sabá é uma chave. Cada fase da Deusa e do Deus é um espelho.
Quanto mais nos reconhecemos neles, mais nos tornamos inteiros.
Porque, assim como Eles: nascemos, amamos, colhemos, descansamos — e renascemos.
☀️ A Roda Gira, Sempre
A Roda do Ano representa os ciclos sagrados da natureza. É o calendário da Terra, baseado nas estações e nos solstícios e equinócios que marcam a respiração viva do mundo.
Mas mais do que apenas datas e festas, a Roda é uma história viva. É a narrativa mágicka do eterno nascimento, amadurecimento e morte do Deus e reencontro com a Deusa.
Assim como a Lua nos mostra as faces e fases da Deusa, nos envolvem em ciclos e mistérios, em uma constante dança cósmica, o Sol e a Terra, o próprio Deus nos mostra suas faces e fases em harmonia com o cosmos, sempre em movimento e transformação.
Esse casal divino é a espinha dorsal da Wicca Algard. Eles não estão “acima” de nós, mas em nossa volta, em nós — nós somos um — então celebramos suas faces e movimentos no macrocosmos enquanto os sentimos em nosso microcosmos, eles representam a polaridade criativa do universo: luz e sombra, nascimento e morte, movimento e silêncio.
A Deusa e o Deus não são forças separadas. Eles são como maré e Lua, como o Sol e o solo fértil, como respiração e corpo. Juntos, eles representam o eterno ciclo da Criação, do Amor, do Sacrifício e do Renascimento.
O Ciclo da Deusa e do Deus
Vamos acompanhar a Roda pela estória que ela desenha ao longo do ano:
🕯️ YULE — O Solstício de Inverno
Entre 19 e 23 de Junho
O Renascimento do Sol
Deusa: Anciã que se torna Mãe
Deus: Criança Divina – O Sol recém-nascido
Na noite mais longa do ano, a Deusa, em seu aspecto mais velho e sábio gera a esperança no útero escuro do inverno e dá à luz ao Deus recém-nascido — o Sol, frágil ainda, ele traz esperança, renovação e promessa de luz e calor. A luz renasce, tímida, mas invencível.
🌱 IMBOLC — A Promessa da Luz
1º de Agosto
O Despertar da Semente
Deusa: Donzela – em Renovação
Deus: Criança Divina – Crescendo em força
A Terra desperta devagar e Deusa se torna Donzela, a energia renovada que dança leve entre as primeiras flores após o frio. O Deus ainda é jovem e cresce a cada dia guiado pela promessa da luz e pela chama sutil da inspiração. Esse é o tempo de purificação, renascimento interno e bênçãos futuras.
🌼 OSTARA — Equinócio da Primavera
Entre 21 e 24 de Setembro
O Encontro da Juventude
Deusa: Donzela plena – Florindo em beleza
Deus: Jovem caçador – Vibrante e vital
A Deusa e Deus estão jovens e vibrantes — e se encantam. Eles se reconhecem como espelhos divinos e dançam ao redor um do outro, prenunciando a união que virá. É o tempo do equilíbrio entre dia e noite, luz e sombras chegando.
É o tempo da fertilidade — aqui nasce o flerte cósmico.
🔥 BELTANE — O Casamento Sagrado
1º de Novembro
A União das Forças Criadoras
Deusa: Amante – Criadora e fértil
Deus: Amante – Semeador e fecundador
No ápice do desejo, o Deus e a Deusa se unem. É a união do Céu e da Terra, da Noite e do Dia, da Luz e da Sombra, da Energia e da Matéria. Do amor deles, a natureza floresce com fúria e abundância. É o casamento sagrado, a explosão da natureza, a dança das flores, dos corpos, da semente.
É nesse momento que tudo floresce porque a união se completa.
☀️ LITHA — Solstício de Verão
O Reinado e o Começo da Perda
Deusa: Mãe plena – Grávida da nova vida
Deus: Rei Sol – Em seu auge e declínio sutil
O Deus reina soberano, pleno de poder e luz, mas já começa a perceber a sombra ao longe.
O Deus atinge seu poder máximo — ele é o Rei Sol, vigoroso, brilhante, protetor. Mas também é aqui que sua energia começa a declinar. O auge já é o começo do fim.
A Deusa agora está grávida. Carrega dentro de si o ciclo seguinte e observa em silêncio o declínio do ciclo atual.
🌾 LAMMAS — A Primeira Colheita
O Sacrifício do Deus-Grão
Deusa: Mãe Sacerdotisa – Senhora dos Frutos
Deus: Sacrificado – O Grão Ceifado
O Deus entrega-se ao campo — como semente, como oferta de garantir a vida. Ele morre voluntariamente para que a Terra continue fértil. A primeira colheita chega, a Deusa colhe e ele se transforma no grão ceifado, no pão da vida.
A Deusa lamenta, mas compreende: é a roda girando.
🍂 MABON — Equinócio de Outono
O Recolhimento e a Sabedoria
Deusa: Anciã em despertar – Guardiã do equilíbrio
Deus: Rei Caçador – Espírito que parte
O dia e a noite se igualam novamente. A Deusa transita da Mãe para a Anciã, recolhendo as últimas colheitas. O Deus prepara-se para adentrar as sombras. Juntos, reconhecem o equilíbrio entre luz e sombra, entre o que nasce e o que parte.
A natureza começa a dormir com ele. O ciclo desacelera.
🕸️ SAMHAIN — O Véu Fino das sombras
1º de Maio
O Reencontro com o Mistério
Deusa: Anciã – Guardiã do Véu e dos Mortos
Deus: Rei das Sombras – Guardião do Silêncio
O Deus já partiu para o mundo das sombras, onde reina silencioso.
O véu se torna fino. A luz é tênue e fria. A Deusa, agora Anciã em sua forma mais completa, governa a travessia. Ela guarda o ventre do renascimento, enquanto vela pelos que partiram. Ela já está gestando o novo Sol, o novo Deus.
É o fim e o começo. O portal do invisível é aberto.
E então, a Roda gira.
*Datas referentes ao Hemisfério Sul
🌿 A Deusa: Sempre Presente, Sempre Girando
Enquanto o Deus vive o ciclo do nascimento, ascensão, declínio e morte, a Deusa vive os seus próprios arquétipos: Donzela, Mãe, Anciã.
Ela não morre. Ela muda .Ela dança com as estações em todos os aspectos da existência. É a Terra em sua totalidade. É o Útero que gera, acolhe e transforma.
Ela guia a Roda com sua sabedoria ancestral, sendo tanto o solo que germina quanto a noite que guarda.
🌳 A Outra Face do Ciclo: Rei Azevinho e Rei Carvalho
Em muitas vertentes wiccanas e também no Neodruidismo, encontramos outra narrativa sagrada para esse ciclo: O eterno duelo entre o Rei Azevinho e o Rei Carvalho.
O Rei Carvalho representa o ano crescente (primavera/verão), a luz que cresce, a força solar, a expansão.
O Rei Azevinho representa o ano minguante (outono/inverno), a introspecção, a noite longa, o recolhimento.
Esses dois reis não são inimigos: são irmãos, espelhos, partes complementares.
Eles se enfrentam nos solstícios:
Em Yule, o Rei Carvalho vence e traz a luz.
Em Litha, o Rei Azevinho vence e inicia a escuridão.
São dois aspectos de um mesmo Deus que se reveza para manter o equilíbrio da Terra.
🔮 A Roda como Reflexo da Alma
Não celebramos apenas o que acontece na natureza externa.
Celebramos o que acontece dentro de nós.
Cada Sabá é um espelho da alma:
Yule: o novo ciclo interno.
Imbolc: o despertar da intenção.
Ostara: o renascimento emocional.
Beltane: o fogo da criação.
Litha: o empoderamento.
Lammas: o desapego.
Mabon: o equilíbrio.
Samhain: a introspecção e reestruturação.
A Roda do Ano é a nossa alma em movimento. É o que nos conecta à Terra, aos Deuses, a nós mesmos.
🌕 Ritual, Festa e Presença
Cada sabá pode ser celebrado de muitas formas: com altares sazonais, banquetes, danças, meditações, círculos mágickos, oferendas, símbolos.
Mas acima de tudo, o mais importante é a presença consciente.
Celebrar um sabá é mais do que acender uma vela ou dizer palavras antigas. É parar para sentir que você também faz parte disso tudo, que você gira com a roda. É reconhecer que o calor, o frio, a floração, o recolhimento — tudo isso mora dentro de você também.
☀️ A Roda Não Cobra Pressa
Se você está começando, vá com calma, afinal, você não precisa entender tudo de uma vez e nem celebrar tudo com perfeição.
A Roda gira todos os anos, você terá outras chances. E cada giro traz novas camadas de sabedoria, cada roda é uma nova experiência mesmo aos que trilham esse caminho há muitos anos.
Comece com um sabá. Sinta. Viva. Deixe que ele te transforme.
E então, quando menos perceber, você estará girando junto com a Terra.
✨ Se há algo que a Roda nos ensina, é que sempre há mais para aprender, mais para viver, mais para sentir ✨
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